domingo, 11 de junho de 2006

Jornal do Brasil demite Alberto Dines

Por Thais de Menezes e Miriam Abreu, do Comunique-se

Alberto Dines deixou de assinar sua coluna no Jornal do Brasil. Ele contou ao Comunique-se que foi comunicado da decisão, nesta sexta-feira (11/06), por e-mail, enviado por José Antonio Nascimento Brito, presidente do Conselho Editorial do JB. “Ele deixou claro que fui suspenso por causa de um artigo que escrevi para o Observatório da Imprensa”.

No texto “A imprensa sob custódia”, Dines faz uma crítica da cobertura feita pelos principais jornais do Rio sobre a omissão do governo do Estado em relação à Casa de Custódia de Benfica, onde houve uma rebelião de presos. “O JB abdicou de fazer jornalismo. Parece jornal, tem periodicidade de jornal, tem os atributos formais de um jornal, tem uma história incorporada ao jornalismo brasileiro, mas neste momento é movido por dinâmica e prioridades diferentes das de um jornal. Pode até estar reinventando o jornalismo, mas este não é o jornalismo do qual foi um dos expoentes e continua sendo praticado pela maioria dos seus concorrentes”, escreveu o jornalista.

Em outro trecho, ele escreveu: “Neste dia crucial, o JB fez o balanço do caso com uma chamada insignificante na parte inferior da primeira página! Ao lado, com destaque dez vezes maior, para satisfazer o enorme contingente de socialites que devoram suas colunas sociais, enorme foto de uma carioca friorenta ostentando um "casaquinho básico". Antes assim, poderia estar falando em brioches”.

Para Dines, ele foi “censurado em todos os sentidos”. “Não inventei nada, não foi notícia de bastidor, mas sim analisei a forma como a cobertura foi feita. Fiz um trabalho técnico”.

O editor-executivo, Marcos Barros Pinto, disse que o colunista fez uma análise errada do JB. “Se ele considera tudo aquilo deste jornal, não deveria nem trabalhar nem receber dele. Como ele não tomou a iniciativa de deixar a empresa, a direção do JB tomou por ele”.

Na próxima edição do OI, que será na terça-feira (15/06), Dines promete escrever um artigo sobre o que aconteceu.



Site Comunique-se – 11/06/2006: “Jornal do Brasil demite Alberto Dines”      

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Entrevista / Boris Casoy: ‘‘Fui tratado como bandido’’

Caçula de seis filhos de Isaac Casoy, dono da tradicional padaria Casoy, na rua José Paulino, em São Paulo, e da dona de casa Raissa Casoy, o paulista Boris Casoy ganhou alguns trocados na adolescência como jogador de pebolim. De ascendência russa, nunca casou ou teve filhos e fez do jornalismo o norte de sua vida. Na Folha de S. Paulo, SBT e Record, onde trabalhou, era ouvido e recebido por presidentes da República e ministros. Nos últimos 8 anos e meio foi âncora do Jornal da Record e entoou o bordão “isso é uma vergonha” até 30 de dezembro, ao ser demitido. Após um silêncio de três meses, recuperando-se do “coice”, Boris conta as pressões políticas e as da Record que culminaram na demissão. 

Ainda cobra na Justiça o que a Record lhe deve?
Sim! Eles querem ser uma grande emissora. Veja o Silvio Santos, a Globo... eles mandam alguém embora e depositam. A Record criou uma negociação que parecia uma feira de Acari: fica um tostão pra cá, um pra lá. Eu tinha 11 meses de contrato. E por contrato eles me devem o total dele: 48 meses. Eles dizem ser ilegal, mas assinaram! É grave a dificuldade que criam para me pagar!

Foi demitido porque seu jornal era engessado e não
dava audiência?
Não tinha compromisso de Ibope. Era o jornal que eu me propus a fazer e nós combinamos. Mas fiquei sendo mudado de horário diariamente – todo dia não é maneira de falar. Eles tinham direito de me mandar embora, o que não podiam era querer que eu fizesse um
Jornal Nacional. Eu não sei fazer o Jornal Nacional e a Globo faz Jornal Nacional melhor que qualquer um. Não quero fazer um clone! Não sei se topasse fazer um Jornal Nacional estaria na Record. Eles sabiam que eu não faria um clone, mas propuseram.

Quando?
Oito meses antes
(da demissão). Quando houve insistência nisso (para fazer um Jornal Nacional), eu disse: “Não vou fazer, não tem jeito. Vamos fazer um acordo e vou embora”. O bispo Honorilton Gonçalves se declarou gravemente ofendido... que era uma ameaça minha. Ficou ressentido. Me pegou como grande ofensor. 

Saiu por não fazer um Jornal Nacional ou por pressões políticas?
Não sei. Formalmente é isso
(não querer fazer um JN). O resto (as pressões) passa pela cabeça. Não sou bobo, mas não posso afirmar. Houve uma tentativa de me amordaçar. Mas vai acabar.

Como vê a liberdade de imprensa no governo Lula?
Esse governo pressionou a Record
(para demiti-lo). Foram várias pressões e a final foi do Zé Dirceu. Eram três assuntos que eles (governo) não queriam nem que se tocasse. Caso Banestado (remessa ilegal de dinheiro para aplicações no Exterior por meio do banco), o compadre do Lula, Roberto Teixeira (advogado da Transbrasil, acusado de operar esquema de arrecadação de dinheiro junto a prefeituras do PT) e o assassinato do (ex- prefeito de Santo André) Celso Daniel. Eu insistia que acabariam em pizza. 

Houve ameaça direta a você?
Não. Houve o telefonema do Zé Dirceu
(para a Record). A diretoria me pôs a par: “Ele disse que vai prejudicar a Record e você pessoalmente se não parar”. Essa foi a última (ameaça)... vinha uma série. O Zé Dirceu caiu em 13 de fevereiro, meu aniversário. Depois que ele caiu, as pressões foram reduzidas. As ameaças (aconteceram) direto para o presidente da Record, que era o Dênis Munhoz. 

Outro político acenou com ameaça?
Nós recebemos um relatório do diretor do escritório de Brasília da Record, que participou de uma reunião em Brasília – as emissoras acertavam questões de publicidade com o governo. Dizia: “Olha, com o Boris Casoy não dá para ter publicidade”. Me contaram ainda que o
(Luiz) Gushiken (ex-secretário de Comunicação) tinha insinuado para o presidente da Record: “Com o Boris lá fica difícil o relacionamento com vocês”. Houve telefones de gente da bancada evangélica: “Olha, o Zé Dirceu reclamou. Isso atrapalha a gente”.

Do que os políticos reclamavam?

Não eram os comentários. A queixa era com a insistência no noticiário. E eu perguntava: “Qual é o ponto?”. Mas jamais o governo explicou! Uma vez noticiamos – todo mundo noticiou – o fato de 14, 15 jovens terem usado o Palácio, transportados de avião, amigos de um filho do Lula. Aí, um senador do PT me procurou e disse que o Lula tinha se ofendido, considerou invasão da privacidade. Falou: “Ele está separado do filho dele. A maneira de ter os filhos mais próximo é convidar os amigos para ficarem junto dele no Palácio nas férias”. Eu falei: “Perfeito. Só que não às minhas custas, às do País”. 

Houve pressões similares no governo Fernando Henrique?
Não. Quando errávamos, ligavam o secretário de Imprensa ou o próprio presidente e nós retificávamos. Havia um diálogo democrático. Mas nenhuma pressão ou ameaça de retaliação, do tipo “vamos prejudicar”. 

Com as pressões, imaginava que pudesse ser demitido?

Quando vi que a Igreja Universal fez um partido político, achei que as coisas podiam engrossar, mas não imaginava que ia ser assim. A maneira como foi feita, dia 30 de dezembro, foi truculenta. Estaria de folga no dia (era uma sexta-feira) e na segunda viajaria. Foi pensado para evitar divulgação. Sou chamado às quatro da tarde da sexta, informado que o contrato está rompido e que a Salete Lemos seria impedida de apresentar o jornal aquele dia. Durou 10 minutos. Falei: “Tá bom. Quando o sr. quer que eu pare?”. E o bispo Honorílton Gonçalves (superintendente executivo da Record): “Já. Imediatamente”. Não é soco, eu levei um coice! Fui tratado como um bandido. Me senti humilhado! Fui tratado com uma violência imerecida, como um inimigo, uma pessoa suspeita. 

Enquanto Lula estiver no governo é um jornalista desempregado?

Não. Tô desempregado de televisão, mas tenho convites de jornais,
de rádios, que basta eu dizer sim. Estou órfão de tevê, mas não imaginei isso. 

Por que ainda não foi contratado?
Emissoras conversaram comigo. Não devo falar quais. Não se colocou, mas eu iria colocar que não vou trabalhar num jornal ou programa de entrevista onde eu seja cerceado. Já passei da idade! Pode ser – ninguém me disse – que isso possa ser um entrave em ano de eleição. Mas sou um bom produto publicitário. Prefiro televisão. Se não der, faço jornal, rádio-jornal. Espero o tempo que precisar para encontrar uma proposta que me dê prazer profissional. Do contrário, prefiro ficar fora. Esse dia chegará, quaisquer que sejam as circunstâncias. E tanto faz
bancada de jornal, programa de entrevista. 

Como é estar desempregado?

Achei que fosse ficar deprimido, mas estou gostando. Pensava que acabaria o contrato (com a Record), ia fazer vestibular para veterinária e mudar de vida. Agora não quero. Pela maneira que fui expulso, expelido. Sigo confiando no meu taco! Estou surpreendido porque estou lendo mais, visitando mais as pessoas, indo a cinema, teatro. Não me deu o que temia: uma terrível depressão. Mas dizem que vai dar!

O que acha do novo Jornal da Record?

Não quero fazer análise. A Record tem gente muito boa, mas um problema: tem de decidir se é uma emissora de tevê, uma igreja ou um partido político. Os três são uma mistura explosiva.

Por que não revelou esses detalhes da sua saída antes?

Deveria me situar, não sabia se devia falar. Não estava preparado. Deveria dar um tempo para não me manifestar sob o impacto do soco na cara. Medo? De quê? O máximo que poderiam era me matar. Mas posso ser morto por um assaltante que encosta um revólver em mim, como aconteceu semana passada: Vem cá, se no Brasil você exercer um jornalismo crítico e tiver medo, tem de parar!

Verdade que foi goleiro de futebol?

Tive poliomielite, não pude andar até 9 anos. Voltei a andar com 12 e só podia jogar melhor no gol. Procurava através de exercícios compensar as deficiências. Fui goleiro do colégio, de bons times de várzea. Treinava todos os dias! Fim de semana participava de quatro jogos. Isso foi até os 20. Fui ficando mais míope. Tentei jogar de óculos, mas quebrou no primeiro jogo. Virei juiz.

Por quanto tempo?

Até a última surra! A última foi no Ibirapuera. Era uma final de congregações marianas (associações religiosas). Era uma disputa feroz, havia caminhões de torcida. No jogo, os dois capitães disseram que eu apanharia no final. Minha roupa estava atrás do gol. Pensei: “Vou perder calça, sapato”. E tinha dez minutos a mais e eu não terminava o jogo. Tinha medo! Aí, houve uma briga. Ao invés de separar, saí correndo com bola e apito e peguei um táxi. Jurei que não apitaria mais se escapasse da surra.



Revista Istoé Gente – de 10/04/2006 - Boris Casoy: ‘‘Fui tratado como bandido’’