O artigo, dizendo que o consumo de bebida alcoólica pelo presidente Lula virara "preocupação nacional", foi duramente criticado até mesmo pela oposição. Aliás, como comentou o jornalista Merval Pereira, de “O Globo” (11/05/2010), não se tratava nem mesmo de uma reportagem e sim de uma “recortagem”, “pois apenas relata impressões e declarações de políticos e jornalistas, uns mais, outros menos confiáveis, já publicados anteriormente em jornais brasileiros. Todos se referindo a supostas situações não comprovadas”.
No entanto, adverte Merval, a história não foi tirada do vazio, pelo contrário, baseou-se em boatos que circulam em Brasília, entre políticos e empresários, sobre os excessos de bebida por parte do presidente. Como é verdade que o tema ganhou as páginas do jornal norte-americano tendo em vista “que o operário Lula habituou-se a beber conhaque nas madrugadas frias do ABC paulista”.
Mas, na terça-feira (11/05), quando o interesse pelo assunto já estava minguando e quase ninguém mais parecia interessado no mexerico, segundo anota a Revista Veja (Edição nº. 1854, de 19 de maio de 2004) o Palácio do Planalto anunciou a decisão de expulsar do país o jornalista Larry Rohter, 54 anos, que trabalhava no Brasil desde os anos 70.
A tentativa do governo Lula em expulsar o jornalista, inevitavelmente, o colocou no mesmo patamar de uma dezena de ditadores mundo a fora, intolerantes com a liberdade de imprensa.
A revista lembra que “em 1970, por exemplo, no governo do general Emílio Garrastazu Médici, o jornalista francês François Pelou, que chefiava a sucursal da agência France Presse no Rio de Janeiro, viu-se obrigado a sair do Brasil por ter noticiado as condições impostas pelos seqüestradores esquerdistas do embaixador suíço Giovanni Bucher. Médici figura ao lado do chileno Augusto Pinochet e do aiatolá iraniano Khomeini, entre as mais de duas dezenas de personalidades sinistras que expulsaram jornalistas estrangeiros do território de seu país nos últimos 35 anos”.
A voz da razão no governo Lula esteve a cargo do ministro da Justiça Márcio Tomaz Bastos que internamente derrotou as pretensões da ala do governo que enveredaram pela expulsão do jornalista. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, foram três os fatores decisivos para dobrar o presidente Lula: “a péssima repercussão na opinião pública nacional e internacional; a certeza da derrota da medida no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a forte pressão de ministros, principalmente de Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que avaliou que o problema se tornaria um divisor de águas negativo no governo Lula se não fosse revertido imediatamente”.
No dia 14/05, o jornalista – através de seus advogados – entrou com um pedido de reconsideração do cancelamento do visto que foi acatado pelo governo federal. No mesmo dia, o NYT divulgou nota em que reafirma os termos da reportagem e que não houve qualquer tipo de pedido de retratação por parte do jornalista ou do veículo. A despeito da tentativa de expulsão, o jornalista Larry Rohter deixou o Brasil em julho de 2007 e continua escrevendo para o NYT.
Fonte: Observatório da Imprensa - O Globo, 11/05/04: Expulsão do jornalista Larry Rohter, do jornal “The New York Times”.
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