terça-feira, 11 de maio de 2004

Expulsão do jornalista Larry Rohter, do jornal “The New York Times”:

O artigo intitulado "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional", do jornalista Larry Rohter, do jornal “The New York Times”, publicado na edição de domingo do dia 09 de maio de 2004, deu início ao mais ruidoso dos episódios de censura à imprensa que envolveram a administração federal petista.

O artigo, dizendo que o consumo de bebida alcoólica pelo presidente Lula virara "preocupação nacional", foi duramente criticado até mesmo pela oposição. Aliás, como comentou o jornalista Merval Pereira, de “O Globo” (11/05/2010), não se tratava nem mesmo de uma reportagem e sim de uma “recortagem”, “pois apenas relata impressões e declarações de políticos e jornalistas, uns mais, outros menos confiáveis, já publicados anteriormente em jornais brasileiros. Todos se referindo a supostas situações não comprovadas”.

No entanto, adverte Merval, a história não foi tirada do vazio, pelo contrário, baseou-se em boatos que circulam em Brasília, entre políticos e empresários, sobre os excessos de bebida por parte do presidente. Como é verdade que o tema ganhou as páginas do jornal norte-americano tendo em vista “que o operário Lula habituou-se a beber conhaque nas madrugadas frias do ABC paulista”.

Mas, na terça-feira (11/05), quando o interesse pelo assunto já estava minguando e quase ninguém mais parecia interessado no mexerico, segundo anota a Revista Veja (Edição nº. 1854, de 19 de maio de 2004) o Palácio do Planalto anunciou a decisão de expulsar do país o jornalista Larry Rohter, 54 anos, que trabalhava no Brasil desde os anos 70.

A tentativa do governo Lula em expulsar o jornalista, inevitavelmente, o colocou no mesmo patamar de uma dezena de ditadores mundo a fora, intolerantes com a liberdade de imprensa.

A revista lembra que “em 1970, por exemplo, no governo do general Emílio Garrastazu Médici, o jornalista francês François Pelou, que chefiava a sucursal da agência France Presse no Rio de Janeiro, viu-se obrigado a sair do Brasil por ter noticiado as condições impostas pelos seqüestradores esquerdistas do embaixador suíço Giovanni Bucher. Médici figura ao lado do chileno Augusto Pinochet e do aiatolá iraniano Khomeini, entre as mais de duas dezenas de personalidades sinistras que expulsaram jornalistas estrangeiros do território de seu país nos últimos 35 anos”.

A voz da razão no governo Lula esteve a cargo do ministro da Justiça Márcio Tomaz Bastos que internamente derrotou as pretensões da ala do governo que enveredaram pela expulsão do jornalista. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, foram três os fatores decisivos para dobrar o presidente Lula: “a péssima repercussão na opinião pública nacional e internacional; a certeza da derrota da medida no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a forte pressão de ministros, principalmente de Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que avaliou que o problema se tornaria um divisor de águas negativo no governo Lula se não fosse revertido imediatamente”.

No dia 14/05, o jornalista – através de seus advogados – entrou com um pedido de reconsideração do cancelamento do visto que foi acatado pelo governo federal. No mesmo dia, o NYT divulgou nota em que reafirma os termos da reportagem e que não houve qualquer tipo de pedido de retratação por parte do jornalista ou do veículo. A despeito da tentativa de expulsão, o jornalista Larry Rohter deixou o Brasil em julho de 2007 e continua escrevendo para o NYT.

Fonte: Observatório da Imprensa - O Globo, 11/05/04: Expulsão do jornalista Larry Rohter, do jornal “The New York Times”.

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